27 de junho de 2007

Difícil supor o amor
insuportável dor
Tenebrosas noites
mais odiosos
pôres
Porém o dia,
sentença do sol,
celebra as doses
de outras dores

Impossível se opor
a dor
do amor
Mesmo cara
dou gorjetas ao vento
cara
meu caro

Cara,
nem entendo
mais é a única coisa gasta
do meu raro amor

16 de junho de 2007

Meu eu mente
E não entende
Quem sou eu

No seu eu
Meu eu se rende
E enfim sente
Um teu

Andando entre gente
Me meço, e de repente
Desabo
Me espalho no nada
Que derreteu

Na madrugada
De ninguém
Tudo é meu

Na madrugada
De céu escuro
Entre a calçada
E o muro
Um eu

Na madrugada
Encontro a vida
Afiada pra mais um
Dia de breu

Coqueiral

O mar é azul
O mar não tem cor
Os pés molhados
Nas ondas do mar
Não tem cor
O mar não tem cor
Não tem cheiro
O mar é um desejo
E o desejo é do tamanho
Do mar
O mar é mais frio
Que um beijo
E o amor é maior
Que o mar
Pra quem conhece
O mar não tem tamanho
No abraço quem mede
Acaba numa onda
Na primeira onda
A única onda
O mar não tem medida
Não tem gosto
O sal não é o mar
O mar é maior
Do que eu posso
Escrever
Criança brinca
De ser gente
E brincando
Entende

Criança brinca
E a gente
Não entende

Criança, quando gente
Não brinca
Não entende
Que quando criança
Brincava de ser gente

A Fila

Ônibus passando
Gente falando
O filme vai começar

Pipoca estourando
Um homem gritando
A cerveja vai acabar

A fila apressada
Não para
De esperar

O sinal vermelho
A criança agita
O filme vai começar

A buzina incomoda
A criança chora
O filme vai demorar

A perna coça
Um outro olha
O filme vai demorar

O filme começa
E tudo pode
Esperar
No espelho
Me vejo
Dourada
E qualquer graça
Me basta

Um dia desses
Me esbarro
Com a felicidade
Aqui do lado
Podre
Rima
Sem amor
Sem estima
O poema
É sua sina
Só a querem
Se for parecida
Com a palavra
De cima
Inteira a noite
É terça
De uma vida
Meia

Domingo
Dormindo
Hoje é terça
Dia de feira

De segunda
À segunda
Chega
Terça-feira

É noite de um
dia inteiro

Nesse século
Forasteiro
Nasci
No meio

Janeiro de
Um março
Que veio

As águas
Já foram

E a morte
Não chega
Nunca mais

A Fome É um Retrato

Ninguém morre de fome
Só morre quem tem nome

Qual a fome de quem some
no primeiro parto?

Só come quem tem nome
pra repetir o prato

De longe
A fome
É só um nome
Um retrato

Releia o manual
que não dizia:
não é falta de educação
falar de boca cheia
mas de barriga vazia

A fome só diminui
quando mais um
ninguém
é enterrrado
Cravo
cravo
Rosa
morta
O espinho
entorta
mas vai até
a (h)orta
Que jorra
verde
vivo
da morta
Rosa
no jardim
colorido
Ela vai sumindo
florida
Deixando
o verde
em seu
lugar