26 de agosto de 2007

cheirando o universo

acaricie a morte
deixe-a deitar em seu colo

acolha com necessidade e
a inocência do primeiro choro

fique um pouco mais
o tempo de um suspiro
seu instante último

contemple distraído
o inevitável eterno

lambuze a mente, a vida é para ser comida

os objetos se entregam
permanecem inteiros
as paredes encobrem
cheiro da própria pele
os castelos alheios se embelezam
o tempo contempla seu mistério
os objetos se enlaçam
com seus vazios
essa casa, esse mundo
tudo passa
mas gruda na mente
de um corpo
que vive pouco
os objetos se instalam em lugares
que a gente se esquece
por não lembrar como eram
o vazio de antes deles
paredes brancas ou bege
ou outros nomes
a mesma cor
tudo o tempo esquece
ou se cansa de lembrar
os objetos vêem
os observa, se olham
sentenciam
rigidez moral
fixo por natureza
andando ou parado
essa vida já lhe é cara
vender os objetos
derrubar as paredes
furar esses buracos
e entender as sobras
os objetos impõem desejos
percebe estar com sono
os objetos lhe acariciam
riem dos seus delírios
sabem a hora de acordar
no dia seguinte
tomam um copo de leite morno e
vão deitar tranquilos

Morte Escrita

Morri ontem
com a glória
que esperava
sentada e sonolenta

O instante que me atravessa
agora
como um estilete
me deixou inteiro pelo lado de fora

Congelado bom senso que
pariu as dores de minha vida
minha morte
gritos
rebuliços das prosas
dos cadernos brancos

As mortes temem túmulos fechados
e lágrimas verdadeiras
morro por enterrar tanta vida
que morre em mim